Teatro São José do Rio Preto, 22 de Março, 2011 - 1:50Ricardo Mattiolli escreve e dirige duas peças em 2011
Francine Moreno
Ricardo Mattiolli volta a pensar em teatro após período de reclusão: trabalhos estreiam este ano
Depois de uma ausência de seis meses por problemas de saúde que o levaram à depressão, o ator e diretor rio-pretense Ricardo Mattiolli retorna à cena teatral com dois espetáculos que lhe renovam o ânimo para 2011. “Tartaruga” e “Funke-se Orpheu”, os novos trabalhos, foram contemplados em prêmios estímulos e têm estreia programada para este ano. Por meio de sua companhia teatral, a Palhaços Noturnos, recebeu R$ 12,4 mil do Programa Municipal “Nelson Seixas” de Fomento à Produção Cultural no ano passado para montar “Tartaruga”, que tem texto e direção dele.
Trata-se, segundo Mattiolli, de um “drama metaforicamente absurdo”. Na peça, o diretor joga para o palco um drama familiar, vivido por personagens que têm nomes bíblicos. “É uma pesquisa de teatro do absurdo com foco no realismo fantástico”, define. Na história, uma mãe e seus três filhos esperam o pai para a refeição diária. A espera transcorre-se durante anos. O pai não aparece e, assim, vão definindo presente e futuro desta família com base no passado, atos incestuosos, brigas e revelações absurdas recheada de símbolos e metáforas.
“Os filhos, numa luta psicológica, vão morrendo em ações fictícias. A mãe sobrevive e resiste a tudo e a todos”, afirma. Para Mattiolli, quem lê a história pode afirmar que o espetáculo parece um pesadelo. No entanto, ele afirma que apenas tenta fazer uma análise do tempo. “A morte como metáfora do tempo, da sabedoria, da resistência e da morte corresponde ao contexto de ‘A tartaruga’”. O elenco do espetáculo é formado por Carol Campos, Cibele Sampaio, Fabiana Abranches e Guilherme Delamura.
Já “Funke-se Orpheu” recebeu R$ 100 mil do Programa de Ação Cultural (ProAc). O projeto, do grupo Galpão 6, de Catanduva, e dirigido por Mattiolli, será inicialmente apresentado em sete cidades (Araraquara, Ribeirão Preto, Piracicaba, São Paulo, Fernandópolis, Rio Preto e Catanduva, que terá duas apresentações). Segundo ele, o espetáculo alinha-se à característica multimídia da trupe catanduvense. Mattiolli está recrutando 25 atores para compor o elenco. A seleção visa a encontrar caras novas para a montagem.
O elenco fechado do espetáculo vai reunir 34 atores, músicos e bailarinos. “De adolescentes a adultos”, diz. Também escrito por ele, o espetáculo é uma espécie de conexão de mitologia com música. “Escolhemos Orpheu pelo homem que foi e o que representou na música”, diz. Segundo o diretor, a peça se origina da ideia do mito grego contemporanizado na estética visual, com personagens urbanos e identidades visuais do realismo fantástico.
A história se desenrola com base na trajetória do mito, tendo o caminho da cruz como elemento para se redimir ao amor de Eurídice no mundo dos mortos. “As personagens serão diretamente conectadas com personagens do mundo atual, revelando assim a mitologia grega e os elementos da linguagem teatral multimídia.” Criado para espaços urbanos, o espetáculo, conta Mattiolli, ainda recorre ao funk para traduzir a exaltação da violência e do caos urbano.
“Manifestações espontâneas, agressividade e contestação da cultura produzida espontaneamente pelo próprio indivíduo”, explica. Para o diretor, os dois prêmios abrem novas perspectivas. “Passei por sérios problemas de saúde. Ainda estou em tratamento, mas os dois espetáculos marcam um retorno com certa metodologia. Sou muito intenso no que faço. Mas aprendi que, para fazer teatro, tenho de ter outro ritmo.”
